Renan Contrera
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Durante cinco dias, os cadetes do terceiro ano dos Cursos de Formação de Oficiais Aviadores, Intendentes e de Infantaria da Academia da Força Aérea (AFA) realizaram um exercício de sobrevivência na Selva Amazônica. O treinamento ocorreu entre os dias 12 e 26 de junho, no Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), na Serra do Cachimbo (PA).
Após desembarque no CPBV, os cadetes recebem os equipamentos para o exercício, que não são muitos: facão, pá, equipamentos de sinalização, velame (tecido do paraquedas), uma pistola 9mm (para a segurança dos cadetes), uma arma de caça e uma mochila. As instruções de segurança são reforçadas e o grupo segue para a área do exercício, com deslocamentos feitos por ônibus e barco.
A área é selvagem, de mata fechada, um cenário típico que sobreviventes encontram quando ficam isolados em ambiente de selva. Divididos em grupos de aproximadamente 14 pessoas, os cadetes permaneceram por cinco dias no local, com o desafio de sobreviver àquela região inóspita. Apesar da prontidão em tempo integral da equipe de suporte, que consegue chegar ao local em cerca de 15 minutos caso sejam acionados, os cadetes ficam sozinhos durante todo o exercício, responsáveis por si próprios e pelo grupo.
São vários os desafios que o sobrevivente enfrenta na selva e durante o exercício não é diferente. Em relação à alimentação, não só a obtenção da comida é essencial, mas também cuidados com a higiene e a identificação de frutos comestíveis, para evitar intoxicação alimentar. A presença de animais selvagens e grande quantidade de insetos é outro forte obstáculo. É comum os cadetes avistarem diversos animais, como onças, macacos, porcos do mato e cobras.
No local, os cadetes colocaram em prática as técnicas que aprenderam na AFA, visando à sobrevivência não só durante os cinco dias do treinamento, mas por tempo indeterminado, já que em uma situação real o tempo de espera do resgate pode variar muito.
O correto preparo de uma área de sobrevivência inclui diversas atividades que melhoram a segurança, como a limpeza da área e a construção de abrigos, de latrinas, área para abate de animais, fogueira, entre outras. Os cadetes preparam, ainda, áreas estratégicas para aumentar as chances de visualização do grupo por parte da equipe de resgate. “Na AFA, tudo aquilo que aprendemos tem alguém para cobrar, mas na selva não. Então quando fazemos algo errado ou mal feito, nós mesmos sofremos as consequências da natureza. Nosso sucesso depende apenas do nosso aprendizado e esforço”, conta o Cadete Gabriel Sampaio Duarte, que participou da atividade.
Após os primeiros dias de treinamento, os cadetes, já cansados e debilitados fisicamente, geralmente começam a sentir outro mal sofrido pelos sobreviventes: moral baixo, excesso de tempo ocioso e tédio. Nesse momento, a união do grupo e a imaginação dos sobreviventes são fortes aliados. “A fome, o sono ruim e o cansaço começam a abater muito as pessoas. Então trabalhar para melhorar a qualidade de vida do grupo nos ajuda muito”, relembra o Cadete Duarte. Segundo o jovem
, móveis improvisados, miniatura de uma pista de pouso e até mesmo
um jogo de golfe improvisado foram algumas das engenhocas criadas pelos grupos.
O treinamento traz grande aprendizado aos cadetes e a certeza de que, se algum dia tiverem o infortúnio de um incidente na selva, estarão preparados para enfrentar a situação. “Trabalhar em equipe, sobre pressão, saber até onde o seu corpo vai, e os limites psicológicos são grandes lições que o treinamento nos trouxe. Tenho certeza que estou preparado se uma situação real acontecer”, afirma o cadete.